Sweet e a morte de um sorriso
sedução
Vi-o esperar pacientemente pelo momento exato de falar e, então, as palavras fluíram doces e profundas, cativando a atenção dos seus convivas.
A umas mesas ao lado, na diagonal do meu olhar, fui atraído por uma imagem masculina que se destacava no grupo que o apaparicava.
Provavam vinhos dispostos numa ordem predeterminada, enquanto um dos homens do grupo acariciava o cálice onde repousava o doce vinho do Porto.
Havia burburinho na sala, mas, ainda assim, e apesar da distância, consegui isolar a voz do homem estrela, momentaneamente perdendo a concentração no grupo que me acompanhava.
No olhar, este homem trazia a conversa indolente de uma sólida experiência de vida. Vi-o esperar pacientemente pelo momento exato de falar e, então, as palavras fluíram doces e profundas, cativando a atenção dos seus convivas.
O pequeno grupo não dava sinais de pressa para coisa alguma.
Pela linguagem corporal, e não fosse a tensão denunciada pela rigidez dos ombros de um dos homens, diria que todos gozavam da descontração das amizades duradouras.
Nele havia aquele tipo de magnetismo com que só alguns humanos são agraciados, uma aura que não nos deixa indiferentes e provoca opiniões aparentemente infundadas.
Talvez seja essa a faísca das paixões e dos ódios. Mas deve ter sido também por isso que ele me pareceu um gajo porreiro. Mas sei lá eu? Não o conheço de parte alguma.
Sweet, ouvi quem assim o chamasse.
No meu grupo, alguém deverá ter dito algo interessante, porque por breves segundos a minha imaginação voltou a ancorar-se ao corpo, no espaço e tempo em que estava. Mas rapidamente voltou a voar.
Viajei para imagens de um qualquer filme a preto e branco e até me pareceu ver o Humphrey Bogart.
A razão de tal devaneio foi facilmente identificável: esta personagem radiante, envergava uma indumentária vintage que, até ao mais subtil detalhe, fazia com que ele e o seu look jogassem em perfeita sincronia.
Foi então que um movimento repentino de outro homem do grupo brilhou mais do prata no fundo de um tanque.
Sweet estava sentado no lado diametralmente oposto a um dos casais do grupo.
De onde me encontrava, conseguia ver o homem desse casal, o tal dos ombros tensos.
A mulher era linda. Os lábios carnudos, marcados por batom carmim, eram hipnotizantes, e o seu andar não deixava a sala indiferente.
O dito fulano passava o braço direito pelas costas da mulher, enquanto eu me levantava sem memória do que ia fazer.
Ainda assim, sobrou-me o tempo de ver uma rápida pressão do braço do homem tenso que, de forma eficaz, matou à nascença aquele que poderia ter sido o mais bonito sorriso que eu veria nesse dia. A intenção clara, era tentava travar, de forma inglória, que a mulher se derretesse às palavras de Sweet.
Se Sweet percebeu, não sei, nada demonstrou. Mas, elegantemente, terminou a frase, deixando um vazio tão incómodo como um mar turbulento onde ele parecia ser mestre em navegar.